Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

HILDA DOOLITTLE


reprodução

Hilda Doolittle


HERMES DOS CAMINHOS

I


A areia dura estala
E os grãos dela
São límpidos como o vinho.

Lá longe, por sobre as suas léguas,
O vento,
Brincando na vastidão da costa,
Ergue minúsculas cordilheiras,
E as grandes ondas
Rebentam-lhes por cima.

Mas mais do que os caminhos de mil espumas
Do mar,
Conheço-o a ele,
O das estradas triplas,
Hermes,
Aquele que espera.

Dúbio,
Face a três caminhos,
Dando as boas-vindas a viajantes,
Ele, a quem o pomar marinho
Abriga a ocidente,
A oriente
Expõe-se ao vento do mar;
Defronta as grandes dunas.

O vento investe
Pelas dunas
E a erva áspera que o sal encrostou
Responde.

Ui,
São chicotes nos tornozelos!


II

Pequeno é
Este ribeiro branco,
Fluindo abaixo do chão
Desde o monte sombreado de álamos,
Mas a água é suave.

Maçãs nas árvores rasteiras
São duras,
Pequenas demais,
Tardiamente amadurecidas
Por um sol desesperado
Debatendo-se contra a neblina.

Os ramos das árvores
Estão retorcidos
Pelos muitos ventos variáveis;
Retorcidos estão
Os ramos de folhas pequenas.

Mas a sombra que lançam
Não é a sombra do topo do mastro
Nem das velas rasgadas.

Hermes, Hermes,
O grande mar espumava
E rangia os dentes em meu redor;
Mas tu esperaste,
Onde a erva do mar se entrelaça
Na erva da terra.

Tradução de João Ferreira Duarte

Nenhum comentário: