Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

terça-feira, 20 de maio de 2008

CECÍLIA MEIRELES

Foto: fonte não conhecida
CANÇÃO

Não sou a das águas vista
nem a dos homens amada;
nem a que sonhava o artista
em cujas mãos fui formada.
Talvez em pensar que exista
vá sendo eu mesma enganada.

Quando o tempo em seu abraço
quebra meu corpo, e tem pena,
quanto mais me despedaço,
mais fico inteira e serena.
Por meu dom divino, faço
tudo a que Deus me condena.

Da virtude de estar quieta
Componho o meu movimento.
Por indireta e direta,
perturbo estrelas e vento.
Sou a passagem da seta
e a seta, - em cada momento.

Não digas aos que encontrares
que fui conhecida tua.
Quando houve nos largos mares
desenho certo de rua?
E de teres visto luares,
que ousarás contar da lua?

domingo, 18 de maio de 2008

MARCILIO MEDEIROS

Foto: arquivo pessoal Marcilio Medeiros

INTERVALO

Nesta tarde em que o vento
vela pelo macio alarido
das chamas
queda-se abandonada
a equívoca equação
que domina o que é selvagem.

O que mais
senão o cansaço
para permitir esse breve momento
de impossível trégua?