Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

sábado, 7 de junho de 2008

Urânia e Calíope

Urânia e Calíope
Pintura de Simon Vouet
Fonte: Wikipedia

Musa com Cítara


Musa com cítara.
Lécito ático de fundo branco e figuras vermelhas atribuído ao Pintor de Aquiles. Data: -445. Munique, Staatliche Antikensammlungen. Fonte: Wikipedia.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

HILDA HILST

fonte: não citada
Hilda Hilst



Teus passos somem
Onde começam as armadilhas.
Curvo-me sobre a treva que me espia.

Ninguém ali. Nem humanos, nem feras.
De escuro e terra tua moradia?

Pegadas finas
Feitas a fogo e a espinho.
Teu passo queima se me aproximo.

Então me deito sobre as roseiras.
Hei de saber o amor à tua maneira.

Me queimo em sonhos, tocando estrelas.

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Eder Accorsi

Penso que tu mesmo cresces
Quando te penso. E digo sem cerimônias
Que vives porque te penso.
Se acaso não te pensasse
Que fogo se avivaria não havendo lenha?
E se não houvesse boca
Porque o trigo cresceria?

Penso que o coração
Tem alimento na Idéia.
Teu alimento é uma serva
Que bem te serve à mão cheia.
Se tu dormes ela escreve
Acordes que te nomeiam.
Abre teus olhos, meu Deus,
Come de mim a tua fome.

Abre a tua boca. E grita este nome meu.


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É neste mundo que te quero sentir.
É o único que sei. O que me resta.
Dizer que vou te conhecer a fundo
Sem as bênçãos da carne, no depois,
Me parece a mim magra promessa.
Sentires da alma? Sim. Podem ser prodigiosos.
Mas tu sabes da delícia da carne
Dos encaixes que inventaste. De toques.
Do formoso das hastes. Das corolas.
Vês como fico pequena e tão pouco inventiva?
Haste. Corola. São palavras róseas. Mas sangram.

Se feitas de carne.

Dirás que o humano desejo
Não te percebe as fomes. Sim, meu Senhor,
Te percebo. Mas deixa-me amar a ti, neste texto
Com os enlevos
De uma mulher que só sabe o homem.

SAN JUAN DE LA CRUZ

fonte: não citada San Juan de la Cruz

CÂNTICO ESPIRITUAL
(trechos)

Buscando meus amores
irei por esses montes e ribeiras;
nem colherei as flores
nem temerei as feras,
e passarei os fortes e fronteiras.

Então, por que chagado
tornaste um coração e o não curaste?
E, já que foi roubado,
por que assim deixaste
abandonado o roubo que roubaste?

Apaga meu queixume,
pois que ninguém consegue desfazê-lo,
e possa ver teu lume
o olhar que em ti se alumbra,
e apenas para ti quero volvê-lo.

Ó cristalina fonte,
se nesses teus semblantes prateados
formasses de repente
os olhos desejados
que tenho nas entranhas desenhados!

Quando tu me fitavas,
sua graça em mim teus olhos imprimiam;
por isso me adornavas
e nisso mereciam
meus olhos adorar o que em ti viam.

Unamo-nos, Amado,
para olharmos em tua formosura
os montes e o valado,
donde mana a água pura;
entremos mais a fundo na espessura.

Descobre tua presença,
mate-me tua visão e formosura;
não te esqueças que a doença
de amor jamais se cura
a não ser com a presença e com a figura.