Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

sexta-feira, 22 de maio de 2009

PÁRIS

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A decisão de Páris, de Giovanni Sons

MARIA DO CARMO BARRETO CAMPELLO DE MELO


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Maria do Carmo Barreto Campello de Melo


LIÇÃO DE AMOR

Não te direi de amor
assim como tu queres
pois não se faz o amor, amor existe
e dá-se dando e dando inteiramente
que despojado é o maior, sem adereços
e a pele é a melhor das vestimentas.

Não te direi
assim como o entendes
mas se eu disser de mim, direi do amor
que há quem não se dando já deu tudo
e visitou a face do teu ser impuro
e adormeceu à sombra dos teus sonhos

Não
assim que me entrego à noite e à desventura
e ferida de amor digo teu nome
e ele me cobre como uma vestidura.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

JUNO

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Juno, de Rembrandt Harmensz van Rijn

EUGENIO MONTALE


O DOUTOR SCHWEITZER

Lançava peixes vivos aos pelicanos famélicos.
São vida também os peixes, lhe ponderaram, mas
de hierarquia inferior.

A que hierarquia pertencemos nós
e em que goelas...? Com esta calou-se o teólogo
e enxugou o suor.

Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti

quarta-feira, 20 de maio de 2009

PÁRIS, HERA, ATENA E AFRODITE


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O juízo de Páris (para escolher a deusa mais bela), de Joan de Joanes

ALVARENGA PEIXOTO

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Alvarenga Peixoto


A LÁSTIMA

Na masmorra da Ilha das Cobras,
lembrando-se da família

Eu não lastimo o próximo perigo,
Nem a escura prisão estreita e forte;
Lastimo os caros filhos e a consorte,
A perda irreparável de um amigo.

A prisão não lastimo, outra vez digo,
Nem o ver iminente o duro corte;
É ventura também achar a morte
Quando a vida só serve de castigo.

Ah! quão depressa então acabar vira
Este sonho, este enredo, esta quimera,
Que passa por verdade e é mentira.

Se filhos e consorte não tivera,
E do amigo as virtudes possuíra,
Só de vida um momento não quisera.

terça-feira, 19 de maio de 2009

JUNO E ARGOS

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Juno e Argos, de Peter Paul Rubens

SÁ DE MIRANDA



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Sá de Miranda


COMIGO ME DESAVIM

Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho inimigo de mim?

VULCANO


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Vulcano forjando os raios de Júpiter, de Rubens

EDNA ST. VINCENT MILLAY


LAMENTO SEM MÚSICA

Não estou conformada com o encerramento na terra de corações apaixonados.
Assim é e será pois sempre foi, em qualquer época passada.
Vão para a sombra, os sábios, os amáveis. Coroados
Com lírios e louros; mas eu não estou conformada.

O amante, o pensador, na terra com eles você se confundiu.
Na bruta e promíscua poeira, com o corpo dos outros, o seu.
Um fragmento do que você soube, do que você sentiu,
Uma fórmula, uma frase dicam; mas o melhor se perdeu.

A resposta arguta, o olhar honesto, o amor, o riso perfeito
- Perdidos. Foram alimentar as rosas. Elegante, ondulado, se descerra
O canteiro. Fragrantes, os canteiros. Eu sei. Mas não aceito.
Mais preciosa era a luz dos seus olhos que todas as rosas da terra.

Para baixo, para baixo, para o túmulo penumbroso,
Vão gentilmente o belo, o terno, o delicado,
Gentilmente o inteligente, o esperto, o valoroso.
Eu sei. Mas não aceito. E não estou conformada.

Tradução de Jorge Wanderley

ANIVERSÁRIO DO BLOGUE


No dia 16 de maio, este blogue fez um ano.