Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

terça-feira, 24 de março de 2009

WALMIR AYALA



reprodução

Walmir Ayala




Deus é o Incriado
é o tudo e o nada
o presente e o ausente
o respirado
e o expirado,
é a primeira imagem
e a última imagem
tocando-se num tempo
sem tempo;
é anterior
a todas as imagem,
é o que não teve espelho
é o que não se vestiu
e se vestiu de tudo
de água de ar de pó,
é o que manipulou
o pó e a brasa ardendo
ciclo perfeito, o anel.
É o brilho, a matéria
o símbolo do anel
é o invisível dedo
da aliança, o espírito
do vinho, violeta
violáceo rá.
Deus é o que há
sem ter sido, no entanto
inacabado sendo
o que não evolui,
é o santo
o címbalo
o fumo
o absinto
o abismo
o projeto
do amor
mais que perfeito.
É o último
teto
do inimaginável.
É a algema,
a asa livre:
é a Imagem.
Apago a luz e penso:
mais uma vez apago a luz,
e respiro para me sentir respirando
com cautela e pasmo.
Hoje vi retratos de meus mortos,
sorriem em praças e paisagens
inatuais.
E eu aqui, ainda vivo,
como? por que? até quando?
Cada trilha me inspira
a despedida,
e eu me vejo ao lado dos mortos
e eles não me vêem
na névoa dos retratos.
Quem me esqueceu neste lado?

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