Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

segunda-feira, 30 de março de 2009

ROBERT CREELEY

A CHUVA

Toda a noite o som tinha
voltado de novo,
e de novo cai
esta chuva persistente, mansa.

O que eu sou para mim
tem de ser recordado
e insisto
tanto? É que

nunca o repouso,
mesmo a dureza,
de chuva caindo
terá para mim

algo mais do que isto,
algo não tão insistente –
terei de ser encerrado nesta
inquietação final?

Amor, se me amas,
deita-te a meu lado.
Sê para mim, como chuva,
a fuga

ao cansaço, à fatuidade, à semi-
luxúria da indiferença intencional.
Molha-te
com uma felicidade decente.

Tradução de Manuel de Seabra

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