Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

sábado, 14 de março de 2009

BERTOLT BRECHT

DE TODAS AS OBRAS

De todas as obras humanas, as que mais amo
São as que foram usadas.
Os recipientes de cobre com as bordas achatadas e com
mossas
Os garfos e facas cujos cabos de madeira
Foram gastos por muitas mãos: tais formas
São para mim as mais nobres. Assim também as lajes
Polidas por muitos pés, e entre as quais
Crescem tufos de grama: estas
São obras felizes.
Admitidas no hábito de muitos
Com freqüência mudadas, aperfeiçoam seu formato e
tornam-se valiosas
Porque delas tantos se valeram.
Mesmo as esculturas quebradas
Com suas mãos decepadas, me são queridas. Também
elas
São vivas para mim. Deixaram-nas cair, mas foram
carregadas.
Embora acidentadas, jamais estiveram altas demais.
As construções quase em ruína
Têm de novo a aparência de incompletas
Planejadas generosamente: suas belas proporções
Já podem ser adivinhadas; ainda necessitam porém
De nossa compreensão. Por outro lado
Elas já serviram, sim, já foram superadas. Tudo isso
Me contenta.

Tradução de Paulo Cesar Lima de Souza

2 comentários:

José Carlos Brandão disse...

Tudo isso me contenta.
Brecht é uma brecha. Isto é, poesia.

Abraços.

Marcilio Medeiros disse...

JC,
bom demais receber seu comentário.
concordo com você.
um abraço