Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

EDITH SITWELL

reprodução
Edith Sitwell

VERDE FLUI O RIO LETE...

Verde flui o rio Lete - Oh
O longo rio Lete
Lá onde o fogo era nas veias - erva cresce
Sobre a febre -
Erva verde crescendo...

Perto eu estava das Cidades da Planície;
E as meninas perseguiam seus corações como as alegres borboletas
Pelos campos do Estio -
Oh veludo evanescente batendo as vossas asas
Como veludo e borboletas no Caminho de Nada a Parte Alguma!

Mas na sede estival
Fugi, porque eu era um Pilar de Fogo, eu era Destruição
Insaciável, encarnada e cor de carne.

Eu era Aniquilamento;
Alva, porém, como o mar Morto, alva como as Cidades da Planície.
Porque eu escutava o meio-dia e minhas veias
Que ameaçavam trovões, e o coração das rosas.

Segui o meu caminho -
Mas longa é a terrífica Rua do Sangue
Que parecera outrora apenas parte do vermelho Estio:
Desdobra-se para sempre e não há desvio,
Mas só fogo, aniquilamento, ardência.

Pensei que o caminho do Sangue nunca se cansava.
Mas agora só o trevo flamante
Pousa no bafejar do leão e na boca do amante -

E verde flui o rio Lete - Oh
O longo rio Lete
Sobre Gomorra e o fogo...

Tradução de Jorge de Sena

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