Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

domingo, 26 de outubro de 2008

FERREIRA GULLAR


reprodução

Ferreira Gullar


ARTE POÉTICA

Não quero morrer não quero
apodrecer no poema
que o cadáver de minhas tardes
não venha feder em tua manhã feliz
e o lume
que tua boca acenda acaso das palavras
- ainda que nascido da morte -
some-se aos outros fogos do dia
aos barulhos da casa e da avenida
no presente veloz

Nada que se pareça
a pássaro empalhado, múmia
de flor
dentro do livro
e o que da noite volte
volte em chamas
ou em chaga

vertiginosamente como o jasmim
que num lampejo só
ilumina a cidade inteira

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