Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

domingo, 8 de junho de 2008

LÚCIO CARDOSO

foto: autor desconhecido
Lúcio Cardoso



TESTAMENTO

Quando um dia pedirem
para dizer o que fui,
lembre-se de mim:
nem leviano nem grave
- humano.

Este ser sem coragem da mentira,
sem amar, porque o amado
é distante e forte;
sem querer, porque o querer
é uma possibilidade de ficar;
sem pedir, porque o orgulho impede
- o único orgulho –
o da raça.
Sem nada. Porque o nada
é o modo genial de tudo ter.
Este.
Não sou mais, porque a lenda
aos poucos devora meu corpo
e tendo sido
precavenho-me para o depois.
Eu sou o depois.
Mas assim como sou
quando um dia pedirem
para dizer que fui
a imagem é fácil:
um ser no vento,
e de tanto passar –
ficou.

4 comentários:

Anônimo disse...

Adorei este "Testamento". Daria um belo "epitáfio".
Também gosto de Florbela Espanca. Lembrei da época da faculdade, em que eu sempre escrevia Fanatismo nos cadernos...

Marcilio Medeiros disse...

Jailma,
Lúcio Cardoso é mais conhecido como ficcionista, mas é um grande poeta também.
Florbela descobri quando lançaram o primeiro livro dela no Brasil, em 1983. Fagner havia musicado alguns sonetos dela e, a partir disso, ela ficou conhecida em nosso país.
Obrigado pela visita. Abs,

Unknown disse...

Caro,
Este texto é pra ganhar mundo.
Seu blog, de encher os olhos!
Vou indicar para grupos de leitura.
Abraço,
Jose Balbino de Oliveira

Marcilio Medeiros disse...

Balbino,
Obrigado pelas palavras generosas.
Agradeço, igualmente, a indicação.
Assim, o trabalho de divulgação dos poetas alcançará, efetivamente, o objetivo.
Abraço,