LAMENTO
Alguém está morto
até as árvores o sabem,
essas pobres dançarinas que se achegam lúbricas,
todas estola verde-ervilha e vértebras de poste.
Penso...
Penso que poderia tê-la detido;
se houvesse sido firme enfermeira
ou notado o colo do motorista
no que ele burlava o sinal do cruzamento;
e depois à noite,
se mantivesse meu guardanapo à boca;
penso que poderia...
se fosse diferente, ou sábia, ou calma,
ter encantado a mesa,
o tenso repasto ou a mão do crupiê.
Mas está feito.
Tudo já foi gasto.
Não há qualquer dúvida em meio às árvores
esticando seus finos pés sobre a relva seca.
Um ganso canadense alça vôo,
estirado como uma blusa de camurça cinza,
enganchando seu bico no vento de março.
No limiar um gato boceja calmo
em sua pelica azul.
Os pratos principais se serviram e o sol
desacostumado a tudo
segue sempre se pondo.
Tradução de Ruy Vasconcelos
2 comentários:
Bela escolha. É muito bonito o poema.
Beijos.
oi, Sônia,
gosto muito deste poema também.
obrigado.
beijo
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