"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"
Safo
domingo, 21 de dezembro de 2008
JORGE FERNANDES
Que linda manhã parnasiana...
Que vontade de escrever versos metrificados
Contadinhos nos dedos...
Chamar de reserva todas as rimas
Em - or - para rimar com amor...
Todas as rimas em - ade - pra rimar com saudade...
Todas as rimas em - uz - pra rimar com Jesus, cruz, luz...
Enfeitar de flores de afeto um soneto ajustadinho
Todo trancado na sua chave de ouro...
Remexo os velhos livros...
“Ah! que saudades eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida...”
Zim... (ligaram um dínamo de milhares de cavalos
E as polias giram e as máquinas abafam o último verso da quadrinha...)
E lá me vem à mente o ritmo dos teares...
As grandes rimas dos padrões...
Os fios se cruzam... se unem pras grandes peças de linho...
- Óleos... fios... polcas... alavancas,
Apitos. Ponteadores. Carrités.
Zim traco! traco! traco! Malhos. Alicates. Ar comprimido.
Fuco! fuco! dos foles
Marcação de fardo pra exportação: marca M.B.C. - Fortaleza - M.F.M. - Mossoró - setas e contra marca -
Trepidação de decoviles.
“Ah! que saudades eu tenho.”
E me abafa o segundo verso de Casemiro
Um caminhão cheio de soldados que segue para o interior
A caçar bandidos.
Que linda manhã parnasiana!
Vou recitar “A vingança da porta”.
Os lindos e sangrentos versos do meu passado:
- “Era um hábito antigo que ele tinha..”
Pregões de gazeteiros: - Raide de San-Roman! Ribeiro de Barros
O grande momento da aviação mundial!
- Que poema forte o de San-Roman!
- Que poema batuta o de Ribeiro de Barros!
Todo misturado de nuvens, de óleo, gasolina,
De graxa, de gritos de bravos! de emoções!
Dem! dem! dem!: - o auto-socorro -
- Quem vem ali?
Um operário que quebrou uma perna de uma grande altura.
- Viva o grande operário! - Viva o grande herói do dia!
- Vivôôôôô!...
sábado, 4 de outubro de 2008
JORGE FERNANDES
Jorge Fernandes
MANHECENÇA
O dia nasce grunindo pelos bicos
Dos urumarais...
Dos azulões... da asa branca...
Mama o leite quente que chia nas cuias espumando...
Os chocalhos repicam na alegria do chouto das vacas...
As janelas das serras estão todas enfeitadas
De cipó florado...
E o coên! coên! do dia novo —
Vai subindo nas asas peneirantes dos caracarás...
Correndo os campos no mugido do gado...
No — mên — fanhoso dos bezerros...
Nas carreiras da cutias... no zunzum de asas dos besouros,
das abelhas... nos pinotes dos cabritos...
Nos trotes fortes e luzidos dos poltros...
E todo ensangüentado do vermelhão das barras
Leva o primeiro banho nos açudes
E é embrulhado na toalha quente do sol
E vai mudando a primeira passada pelos
Campos todo forrado de capim panasco..