Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

terça-feira, 22 de julho de 2008

ARTHUR RIMBAUD

O ADORMECIDO DO VALE

Era um recanto onde um regato canta
Doidamente a enredar nas ervas seus pendões
De prata; e onde o sol, no monte que suplanta,
Brilha: um pequeno vale a espumejar clarões.

Jovem soldado, boca aberta, fronte ao vento,
E a refrescar a nuca entre os agriões azuis,
Dorme; estendido sobre as relvas, ao relento,
Branco em seu leito verde onde chovia luz.

Os pés nos juncos, dorme. E sorri no abandono
De uma criança que risse, enferma, no seu sonho:
Tem frio, ó Natureza - aquece-o no teu leito.

Os perfumes não mais lhe fremem as narinas,
Dorme ao sol, suas mãos a repousar suspiras
Sobre o corpo. E tem dois furos rubros no peito.


Tradução de Ivo Barroso

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

Mais poesia de boa qualidade no seu blogue. Parabéns.

Marcilio Medeiros disse...

Moacy,
Obrigado.
Ab,