Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

sábado, 6 de setembro de 2008

CÉSAR VALLEJO

wikimedia commons
César Vallejo

OS ANÉIS FATIGADOS

Há ânsias de voltar, de amar, de não ausentar-se,
e há ânsias de morrer, combatido por duas
águas unidas que jamais hão-de istmar-se.

Há ânsias de um beijo enorme que amortalhe a Vida,
que acaba na áfrica de uma agonia ardente,
suicida!

Há ânsias de... não ter ânsias, Senhor,
a ti aponto-te com o dedo deicida:
há ânsias de não ter tido coração.

A primavera volta, volta e partirá. E Deus,
curvado em tempo, repete-se, e passa, passa
carregando a espinha dorsal do Universo.

Quando as têmporas tocam seu lúgubre tambor,
quando me dói o sonho gravado num punhal,
há ânsias de ficar plantado neste verso!

Tradução de José Bento

2 comentários:

dade amorim disse...

Belíssimo poema, Marcilio. Gostaria de ter escrito alguns desses versos =o]
Abraço e um bom domingo.

Marcilio Medeiros disse...

Adelaide,
Eu também. Lindo mesmo.
Obrigado pela visita.
Grande abraço,