Condessa de Noailles, em pintura de Ignacio Zuloaga
IMAGEM
Meu pobre fauno moribundo
Reflete-me no teu olhar,
E entre as sombras do outro mundo
Minha memória faz dançar.
Vai, e dize aos mortos celestes,
A quem, decerto, eu agradara,
Que os lembrarei sob os ciprestes,
Por onde vou, franzina e clara.
Hás-de contar-lhes esta fronte,
Com seus bandeletes de lã,
A boca estreita e os dedos, onde
Há cheiro a feno e a hortelã.
Fala em meus gestos singulares
Deslizando tal qual a sombra
Que balanceiam nos pomares
As folhas vivas e sem conta.
Dirás aquilo que em mim arde,
Nas minhas pálpebras pesando,
E que ao dançar, a brisa, à tarde
Vai-me o vestido desmanchando.
Dirás que assim em me reclino
Sobre os braços nus e que, cheias,
Na minha carne de oiro fino,
Cor de violeta são as veias.
Dize-lhes que são meus cabelos
Dum azul de fruto a amadurar;
Alvos, meus pés são dois espelhos
E tenho os olhos cor de luar.
E diz que em noites de langor,
Deitada à beira das nascentes,
Eu abracei, de puro amor,
Suas sombras inconsistentes.
Tradução de A. Herculano de Carvalho
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