foto: autor desconhecido
Lúcio Cardoso
TESTAMENTO
Quando um dia pedirem
para dizer o que fui,
lembre-se de mim:
nem leviano nem grave
- humano.
Este ser sem coragem da mentira,
sem amar, porque o amado
é distante e forte;
sem querer, porque o querer
é uma possibilidade de ficar;
sem pedir, porque o orgulho impede
- o único orgulho –
o da raça.
Sem nada. Porque o nada
é o modo genial de tudo ter.
Este.
Não sou mais, porque a lenda
aos poucos devora meu corpo
e tendo sido
precavenho-me para o depois.
Eu sou o depois.
Mas assim como sou
quando um dia pedirem
para dizer que fui
a imagem é fácil:
um ser no vento,
e de tanto passar –
ficou.
4 comentários:
Adorei este "Testamento". Daria um belo "epitáfio".
Também gosto de Florbela Espanca. Lembrei da época da faculdade, em que eu sempre escrevia Fanatismo nos cadernos...
Jailma,
Lúcio Cardoso é mais conhecido como ficcionista, mas é um grande poeta também.
Florbela descobri quando lançaram o primeiro livro dela no Brasil, em 1983. Fagner havia musicado alguns sonetos dela e, a partir disso, ela ficou conhecida em nosso país.
Obrigado pela visita. Abs,
Caro,
Este texto é pra ganhar mundo.
Seu blog, de encher os olhos!
Vou indicar para grupos de leitura.
Abraço,
Jose Balbino de Oliveira
Balbino,
Obrigado pelas palavras generosas.
Agradeço, igualmente, a indicação.
Assim, o trabalho de divulgação dos poetas alcançará, efetivamente, o objetivo.
Abraço,
Postar um comentário