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José Lezama Lima
A ESCADA E A FORMIGA
À meia-noite
a formiga desce a escadaria do hotel.
Tenta seguir o alongamento de uma linha reta.
Às vezes pára: que labirintos resolverá?
Mas cada patamar a faz parar
de um modo surpreendente.
Anda pelo degrau como se procurasse
a encosta necessária para suas costas,
e então se precipita como se cantasse.
Está livre de todo compromisso,
mas acha de imprevisto um pedaço de asa
e corre pra alcançar a casa que desconhecemos.
Faz a folia em todas as escalas
e depois desce gabola até a outra
correndo como se estivesse numa praia.
Está feliz
por dominar a escada.
Sabe que terá sucesso em sua luta.
O sapato que pode machucá-la
passa raspando, mas lhe deixa
um pedaço de folha de tabaco,
uma pétala maculada,
o sal que acalora seus olhos dominantes.
É a senhora da escada
e passeou degrau por degrau
com a elegância de uma dama inglesa
que leva o lixo até a esquina,
ao latão verde
com a coroa inglesa
riscada pelos dois leopardos.
Tradução de Josely Vianna Baptista
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