reprodução
e. e. cummings
A FUNÇÃO DO AMOR É FABRICAR DESCONHECIMENTO
a função do amor é fabricar desconhecimento
(o conhecido não tem desejo; mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas, o idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o fato, os peixes se gabem de pescar
e os homens sejam apanhados pelos vermes (o amor pode não se importar
se o tempo troteia, a luz declina, os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
— o medo tem morte menor; e viverá menos quando a morte acabar)
que afortunados são os amantes (cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver
(que riem e choram) que sonham, criam e matam
enquanto o todo se move; e cada parte permanece quieta:
pode não ser sempre assim; e eu digo
que se os teus lábios,que amei, tocarem
os de outro, e os teus ternos fortes dedos aprisionarem
o seu coração,como o meu não há muito tempo;
se no rosto de outro o teu doce cabelo repousar
naquele silêncio que conheço, ou naquelas
grandiosas contorcidas palavras que, dizendo demasiado,
permanecem desamparadamente diante do espírito ausente;
se assim for,eu digo se assim for —
tu do meu coração, manda-me um recado;
para que possa ir até ele, e tomar as suas mãos,
dizendo, aceita toda a felicidade de mim.
E então voltarei o rosto, e ouvirei um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.
Tradução de Cecília Rego Pinheiro
2 comentários:
Marcilio, adorei o seu blog, eu não sabia dele ou sabia e esqueci?
Postei um link lá no meu FB.
A FUNÇÃO DO AMOR É FABRICAR DESCONHECIMENTO de e. e. cummings.
de chorar...
beijos!
Maína Junqueira
oh, Maína, coisa boa te ver aqui.
obrigado. bj
ps: vou conferir no seu FB
Postar um comentário