Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

sábado, 1 de novembro de 2008

BENTO TEIXEIRA


reprodução

Bento Teixeira


PROSOPOPÉIA (EXCERTO)

DESCRIPÇÃO DO RECIFE DE PARANAMBUCO


Para a parte do Sul onde a pequena
Ursa se vê de guardas rodeada,
Onde o Céu luminoso, mais serena,
Tem sua influição, e temperada,
Junto da nova Lusitânia ordena,
A natureza, mãe bem atentada,
Um porto tão quieto, e tão seguro,
Que para as curvas Naus serve de muro.

É este porto tal, por estar posta,
Uma cinta de pedra, inculta, e viva,
Ao longo da soberba, e larga costa,
Onde quebra Neptuno a fúria esquiva,
Entre a praia, e pedra descomposta,
O estranhado elemento se deriva,
Com tanta mansidão, que uma fateixa,
Basta ter à fatal Argos aneixa.

Em o meio desta obra alpestre, e dura,
Sua boca rompeu o Mar inchado,
Que na língua dos bárbaros escura,
Paranambuco, de todos é chamado
De Paraná que é Mar, Puca - rotura,
Feita em fúria desse Mar salgado,
Que sem no derivar cometer míngua,
Cova do Mar se chama em nossa língua.

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