Um caderno de leituras

"esguias Graças, Musas de mais magas tranças,
vinde, vinde agora"

Safo

terça-feira, 1 de julho de 2008

ARTHUR RIMBAUD

Foto: Étienne Carjat - domínio públicoArthur Rimbaud

Longe de pássaros, de rebanhos e aldeãs,
Numa clareira, o que estaria eu a beber de
Joelhos, tendo em volta uns bosques de avelãs,
Na cerração de um meio-dia úmido e verde?

O que haveria eu de beber nesse Oise infante,
- Olmos sem voz, relva sem flores, céu sem mira! –
Beber em cuias amarelas, bem distante
Da tenda? Algum licor dourado que transpira.

A torpe insígnia de um albergue eu parecia.
- Um temporal varreu o céu. No anoitecer
Na areia branca a água dos bosques se perdia,
No charco o vento de Deus flocos fez descer;

Chorando, eu via o ouro – e sem poder beber.


Tradução: Ivo Barroso in RIMBAUD, Arthur.
Uma estadia no inferno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.

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